Ética e Serviço Público - Política, Para Não Ser um Idiota

 Leia com atenção as perguntas abaixo:

  • É você que produz sozinho alimento que consome?
  • É você que ensina seus filhos os conhecimentos científicos dentro dos padrões socialmente estabelecidos?
  • É você que produz o combustível que vai ser usado no seu carro?
  • Você já nasceu sabendo tudo o que sabe hoje? Alguém nasce católico ou evangélico?
  • O Estado sempre existiu?

Se a resposta foi negativa para todas essas perguntas e se, como eu, você está na condição de agente público concursado ou não, presta algum serviço a uma infinidade de pessoas, preciso lhe dizer que isso somente é possível pois você, eu, nós, vivemos em uma sociedade.

Em outras palavras, você, eu, nós vivemos num ambiente onde existe certo grau de interdependência entre as pessoas. Nós não só vivemos em sociedade, nós convivemos com outras pessoas.

Acredito que você já tenha travado contato de alguma forma com o Filósofo e Professor Mario Sérgio Cortela. Ele e o ex-ministro da Educação, também Filósofo, Renato Janine Ribeiro, dialogam sobre a sociedade no livro Política, para não ser um idiota. Leia o trecho:

Cortella – A proibição visa evitar que não fumantes sejam constrangidos pelos fumantes.

Janine – Mas há gente que questiona: “A lei pode me impedir de fazer mal a mim? Pode determinar que eu não fume porque isso fará mal a minha saúde?”. Ora, sinto vontade de responder: “Mas quem disse que você escolheu tão livremente fumar? Quem disse que não houve uma propaganda maciça para levar você a escolher fumar (ou a escolher comida gostosa, escolher engordar)? Que liberdade é essa? Você tem razão, Mário, quando afirma que somos alvo de n constrangimentos”. Por isso, penso que a resposta ideal à sua pergunta poderia ser: A política seria uma maneira de lançarmos luz sobre essas teias invisíveis que nos dominam e tentarmos controlá-las.

Cortella – A política é vista ai como convivência coletiva mesmo. Quando se poderia imaginar que o conjunto da sociedade aceitaria a interdição do uso do tabaco em determinados espaços? Ou mesmo a limitação do uso de carros particulares em algumas cidades em dias e horários específicos, ou ainda de fazer ruído a partir de determinada hora, mesmo que moremos cada um em sua própria domus, ou seja, em sua casa? Mas a questão é que não temos domus, só temos con-domínios. Viver é conviver, seja na cidade, ainda que me casa ou prédio, seja no país, seja no planeta. A vida humana é condomínio. E só existe política como capacidade de convivência exatamente em razão do condomínio. Daí o indivíduo pergunta: “Mas e meu direito de sair com meu carro quando quiser, ou de fazer ruído até a hora que eu desejar?”

Outro dia, eu voltava de Campinas para São Paulo pela rodovia dos Bandeirantes, e na frente havia um caminhão-baú, desses fechados e grandes, ostentando, na traseira, aquela frase obrigatória para algumas empresas: “Como estou dirigindo?. Mas ele deu sequência à frase, assim: “Como estou dirigindo? Mal? Dane-se, o caminhão é meu”. Essa lógica “do caminhão é meu” significa “eu faço o que quero, sou livre”. Ora, esse exercício da liberdade como soberania é algo que se aproxima da ideia da idiótes. Não sou soberano. Entretanto o indivíduo afirma: “Eu sou soberano sobre mim mesmo”.

Mas ser soberano sobre si mesmo não é política. Ou será que é?

CORTELLA, Mário Ségio; RIBEIRO, Renato Janine. Política: Para não ser idiota. Campinas, São Paulo: 2015.


Creio que até aqui já tenha ficado claro duas coisas: a primeira, que o homem não consegue levar a vida que leva atualmente sem a sociedade lhe dando suporte; e a segunda é que não existe sociedade sem regras, normas. Elas são interdependentes.

O próximo texto vai permitir entender melhor porque o homem vive em sociedade e que vantagens são obtidas a partir dessa “escolha”. 

Fonte: ENA Virtual - Curso: Ética e Serviço Público.

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